Big techs começam a divulgar resultados na semana pressionadas pela DeepSeek

A temporada de divulgação de balanços das maiores empresas de tecnologia dos Estados Unidos começa na próxima quarta-feira (29) sob pressão de um novo concorrente vindo da China. Na segunda-feira (27), antes mesmo da abertura do mercado, a influência do chat de IA generativa da startup DeepSeek levou a uma queda nas ações das companhias mais representativas do índice S&P 500.

A reação do mercado no início da semana se deve principalmente à sinalização de que modelos de inteligência artificial podem ser criados de forma mais barata e eficiente, justamente em um momento em que as grandes companhias têm despejado rios de dinheiro na ampliação de sua infraestrutura para data centers.

Na quarta-feira (29), Microsoft (MSFT34), Meta (M1TA34) e Tesla (TSLA34) inauguram a temporada de balanços das chamadas “Magnificent Seven“, sete maiores companhias do setor nos EUA. Logo no dia seguinte, quinta-feira (30), a Apple (AAPL34) apresenta seus resultados. Na semana seguinte é a vez de Alphabet (GOGL34) e Amazon (AMZO34) fazerem os anúncios.

“Já havíamos começado a perceber uma preocupação maior dos investidores com relação ao retorno sobre os elevados investimentos feitos em IA nos últimos trimestres”, diz o estrategista global do Research da XP, Paulo Gitz. “Agora, com esse evento DeepSeek em mente, as big techs terão que detalhar melhor como pretendem ser lucrativas com seus projetos na área, sob o risco de, caso as explicações não sejam convincentes, serem punidas pelo mercado.”

Quem fecha a lista de balanços do grupo é a empresa do momento quando o assunto é inteligência artificial: a Nvidia (NVDC34). É ela quem está no centro da disputa entre Estados Unidos e China pela indústria de semicondutores e não pode vender muitos dos seus produtos de mais nova geração ao país asiático.

Aparentemente, no entanto, o acesso às GPUs de vanguarda da desenvolvedora de chips americana não impediu que o modelo DeepSeek-R1, fosse capaz de atingir desempenho similar a líderes do mercado, como OpenAI e Meta. “A Nvidia, pelas altas expectativas de vendas de seu novo produto, o Blackwell, pode ter estimativas revisadas para baixo”, aponta Gitz.

As ações da Nvidia caíam na casa de 16% por volta das 16h da segunda-feira.

Para a revista Nature, especialistas estimaram que o custo de aluguel de hardware para treinar o DeepSeek-R1 foi de aproximadamente US$ 6 milhões, contra mais de US$ 60 milhões para o Llama 3,1 405B da Meta, cuja demanda por recursos de computação foi 11 vezes maior.

Gitz destaca, no entanto, que o DeepSeek usou modelos já existentes como base para seu desenvolvimento: “O modelo deles não tira a necessidade de desenvolver e aprimorar os atuais LLMs [sigla em inglês para modelos de linguagem ampla]. É uma indústria em estádios ainda iniciais de evolução e, como esse evento, muitos outros ainda virão”.

A chegada do DeepSeek acontece justamente na semana em que começam os anúncios menos entusiasmados de resultados das big techs em anos. Segundo dados compilados pela Bloomberg Intelligence, os lucros das sete maiores companhias de tecnologia do mundo estão projetados para crescer 22% no quarto trimestre do ano fiscal, a menor evolução desde o primeiro trimestre de 2023.

“Não deve haver impacto direto visível nos resultados das empresas. O foco será na resposta do management em relação à possibilidade de ser mais eficiente nos investimentos”, diz Gitz.

Por: Iuri Santos/InfoMoney