20/12/2024 08:10:00
Dólar alto é ruim até para quem tem contratos na moeda americana, diz CEO da Odata
Ricardo Alário vê valorização da moeda americana e escalada dos juros como problemas para o longo prazo
“O impacto de mais longo prazo é muito ruim”. Essa é a descrição que Ricardo Alário, CEO da empresa de construção de data centers Odata, faz sobre a rápida escalada do dólar e da taxa de juros no Brasil. O executivo avalia que a elevação nos indicadores pode impactar a demanda por serviços de nuvem e aumentar os custos para o setor.
Na última segunda-feira (16), a divisa americana fechou a R$ 6,092, um recorde histórico. O Comitê de Política Monetária (Copom) elevou a taxa básica de juros em 1% na sua última reunião — a expectativa é de dois aumentos da mesma magnitude nos próximos encontros.
A Odata atua em um segmento de desenvolvimento de infraestrutura para grandes provedores de nuvem, chamados de hyperscalers. A companhia não diz exatamente quais são eles, mas Google, Amazon, Microsoft, Meta e Oracle dominam o mercado.
Embora esses contratos sejam fechados em dólares, o que inicialmente parece um bom sinal quando a divisa americana é valorizada frente ao Real, o efeito não é positivo para o setor.
“A nuvem de grande parte das redes são produtos dolarizados. Por mais que eles cobrem em Real, são atrelados a um preço em dólar global, então automaticamente fica mais caro para todos os clientes do consumo final”, conta Alário.
Funciona assim: as big techs cobram em Real, mas a precificação para contratar um serviço de nuvem é atrelada à moeda americana. Então, o dólar fica mais caro, e os clientes dos grandes provedores de nuvem tem custos mais elevados para migrar ou manter seus dados e processamento nessa rede.
“Como na maior parte das indústrias a tecnologia da informação é meio, e não fim, tem orçamentos que detêm o crescimento, implementação de uma tecnologia nova”, explica o executivo. Esse efeito não se restringe à nuvem, mas a toda a cadeia, como na contratação de serviços de software.
Juros em alta
A elevação dos juros deixa o cenário ainda mais desafiador, encarecendo o custo para financiar obras de novos data centers. Como o poder de barganha de gigantes da tecnologia é grande, repassar esses custos não é a alternativa mais simples. O mais comum é que as margens de lucro fiquem comprimidas.
Comprada pela americana Aligned Data Centers em 2023, a Odata está menos exposta ao custo dos empréstimos no Brasil: mais de 90% da sua dívida atual foi contraída no exterior. Ainda assim, a avaliação de Alário quanto ao atual patamar da Selic não é positivo. De novo, é um indicador que, quando alto, sinaliza menor demanda dos clientes finais.
Por outro lado
Apesar do cenário desafiador, o setor de tecnologia tende a ser mais anticíclico que outras indústrias. Como períodos de elevação tendem a reduzir o apetite das empresas por despesas de capital, como investimentos em infraestrutura, uma alternativa é terceirizar essas demandas para serviços — por exemplo, em vez de comprar um servidor, alugar na nuvem.
“É uma área um pouco mais protegida que outas que sofrem mais com uma queda de consumo”, avalia Alário.
Para a Odata, o momento macroeconômico do Brasil não deve significar uma grade mudança de rota. A avaliação é de que apenas uma “crise mais duradoura” poderia impactar a avaliação, o que não é o caso hoje.
“A empresa segue fazendo investimentos em terrenos. “Nós estamos pensando em longo prazo. Não deixamos de comprar terrenos, equipamentos, porque estamos pensando em quatro ou cinco anos.”
A empresa também tem operações em mercados como México, Chile e Colômbia, em geral atraída para os países por provocação das big techs. Em outubro, a companhia investiu US$ 1,3 bilhão (R$ 7,4 bilhões) para a construção de novos conjuntos de data centers na Colômbia.
Por: Iuri Santos/InfoMoney
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